PASSOU O ENTRUDO, essa bizarra data do calendário que, ano após ano, vem agitar a pacatez da aldeia, onde o trabalho é rude, a vida dura e o recreio nulo. Aqui e além aparecem, de vez em quando, uns pequenos mascarados, caras tapadas, pés descalços, como que numa teimosia temerária de manter a tradição, uma tradição que vai fugindo embora muito lentamente, qual moribundo condenado a viver a própria morte antes de deixar a vida.
AQUI NA ALDEIA, onde outrora se «vivia» o rei carnaval, com alegria efusiante, onde as «cegadas» marcavam pela sua garradice e animação, pouco mais existe que a recordação distante de uma alegria incontida nos espíritos fuliões da gente moça que, à noite, nos bailaricos, rodopiava alegremente a «chula» e o «vira» e ia para casa manhã alta comer o leite coalhado com trigo, pitéu tão típico da época.
Boletim Sobralgordense, Fevereiro de1959.