O afastamento da terra onde se nasce, na luta incessante pela vida, acarreta, atrás de si, uma onda fremente de saudade, recordação quotidiana das coisas simples como almas sãs, a ribeira onde brincámos juvenis, a árvore que servia de esconderijo, a rua principal que no Inverno, além do lamaçal, para nos espojarmos oferecia, quais piscinas, lagos naturais, para adquirirmos uma mais escura cor de lama.
Depois evocamos a «ti Joana» que nos contava histórias de dragões e príncipes encantados, o «ti Manel» embarcadiço que nos deslumbrava com a descrição de outros mundos e outras gentes, mundos que facultam o amealhar do «pézinho de meia»...
E aqui nasce a aventura e também o regionalismo.
A saudade fomenta no coração a lembrança do que falta no berço querido, um passo mais na senda da civilização: a fonte do chafurdo pode inquinar-se, os caminhos estão uma lástima e a escola precisa de obras...
A «aventura» contribui então, generosamente, tributo ao torrão natal, com possibilidades materiais para que, lenta mas com segurança, se satisfaçam as mais caras aspirações, do que resulta uma obra maravilhosa que é de todos, a perpetuar a formação moral de cada um.
Por isto, que já não é pouco e por outro muito que não registamos respeitosamente nos inclinamos pelo desinteressado afecto dos cultivadores do regionalismo, simpatia que ditou, igualmente este despretensioso artiguelho.
Arnaldo Brandão, Boletim Sobralgordense,Abril de1959.