«Muitas obras se realizaram já, graças ao bairrismo dos nossos conterrâneos»
Na impossibilidade de nos deslocarmos a Pomares, e na ansiosa expectativa de procurarmos saber das razões que haviam levado o nosso prezado consócio e conceituado Presidente da Junta de Freguesia de Pomares (sr. António dos Santos Diniz), a tentar relegar o seu cargo, não hesitámos em enviar-lhe um questionário com as perguntas que julgámos mais oportunas.
A afabilidade e a amizade que liga a mais alta individualidade da Freguesia aos seus conterrâneos e, muito especialmente, às comissões de melhoramentos, está bem patente na resposta que prontamente chegou à nossa redacção.
- Constou-nos, Sr. Diniz, que tenciona deixar a Presidência da Junta... O que há de verdade sobre o caso?
- De facto, foi minha intenção deixar o cargo de presidente da Junta quando das eleições que não se realizaram por determinação superior. A justificação desta minha atitude residia, principalmente, na solução de certos problemas para os quais a Junta dispendeu grandes esforços. Presentemente continuo ocupando o mesmo lugar, preocupado sempre, e apenas, com o cumprimento exacto dum dever, a bem da Nação e do progresso da nossa querida freguesia de Pomares.
- Como sabe, o movimento regionalista apossou-se da nossa freguesia, onde as Comissões de Melhoramentos, dez ao todo, têm realizado verdadeiros milagres. Como encara a sua actividade e a obra realizada?
- É, sem dúvida, digna de honroso elogio a acção a todos os títulos prestigiante das comissões de melhoramentos. Estas colectivadades são e continuarão a ser a causa do progresso das nossas terras. Sem elas, a freguesia de Pomares estaria, se não está ainda, a um século de atraso na civilização do nosso século.
Há pouco tempo, ainda, O Deputado da Nação Dr. José Fernandes Nunes Barata, erguia a voz em plena Assembleia Nacional para enaltecer e salientar a obra extrorodinária das Comissões de Melhoramentos. Por isso, cremos, que não poderá haver progresso em terras pobres como as nossas sem uma comissão de melhoramentos.
- Em que plano têm decorrido as relações, Comissões - Junta de Freguesia? Acha que esta poderia fazer mais por aquelas?
-Pelo que me diz respeito julgo ter mantido, e continuarei a manter, as melhores relações com todas as colectividades da freguesia. Bem entendido que a Junta não pode fazer milagres e, muitas vezes, vê-se na contigência de ter que recusar um auxílio que transpõe o limite das suas possibilidades. Fora disso, a Junta tem auxiliado, coadjuvado até, as iniciativas das várias comissões. No entanto, julgo ser um imperioso dever desta Junta, a que presido, procurar resolver problemas de maior necessidade (presentemente a ombros com alguns) que, por enquanto, afligem profundamente a nossa freguesia. Esta é, sem dúvida, proporcionalmente uma das povoações que menos tem progredido.
- Não lhe parece, sr. Presidente, que a Câmara Municipal de Arganil nem sempre tem dispensado o apoio que era lógico esperar para as colectividades que tanto e tão desinteressadamente têm servido e valorizado o património concelhio?
Concordo plenamente com o meu amigo. Não sei explicar, mas parece-me que a Câmara Municipal tem descurado bastante os interesses das nossas terras. Basta lembrar, por exemplo, o estado lastimoso em que se encontram os caminhos da nossa freguesia.
- Nos últimos dez anos, quais, em seu entender, as realizações mais importantes levadas a cabo na nossa freguesia, e quais aquelas que urge realizar?
- Muitas obras se realizaram já, graças ao entusiasmo e grande bairrismo dos nossos conterrâneos. Para testemunhar, basta lembrar a ponte do Barrigueiro, índice seguro do grande bairrismo e amor à terra, do povo de Sorgaçosa; as escolas de Pomares, Sobral Gordo e Soito da Ruiva, as estradas para a Mourísia e Vale do Torno, etc. e ainda, a cobertura do ribeiro de Pomares que atravessa a nossa freguesia e, em contraste, o seu progresso nos últimos anos. Para o futuro há, principalmente, dois grandes melhoramentos a realizar: a ligação de todos os povoados com a sede de freguesia por estradas condignas e a electrificação de toda a freguesia.
- Temos ouvido com insistência que os trabalhos para a electrificação de Pomares vão começar em breve... Pode dizer em que ponto se encontram? Não lhe parece que, uma vez electrificada a sede de freguesia, se poderia estudar em conjunto um plano de electrificação de toda a freguesia?
- Para Pomares o problema de electrificação graças a Deus, está resolvido. Esperamos que no fim do ano que corre esteja electrificada a sede de freguesia. A brigada técnica da Hidro- Eléctrica, encontra-se presentemente electrificando a freguesia de Pombeiro, depois irá para Nogueira e Lomba e finalmente para Pomares e Anceriz. A Comissão Pró-Electrificação de Pomares depositou já o dinheiro exigido e, portanto, aguardamos apenas o início dos trabalhos.
Como sócio que é da nossa agremiação, que pensa sobre a publicação do «Boletim»?
- Ideia muito interessante, sem dúvida. Ele é, absolutamente, o elo de união entre a colectividade e os seus sócios que assim, mais facilmente, podem tomar conhecimento e contacto com os problemas colectivos. Todavia, deve acarretar à colectividade sacrifícios, que só a boa vontade e o entusiasmo de alguns poderá resolver. Que seja profícuo o seu trabalho junto dos sócios, para bem do Sobral Gordo e de toda a freguesia, são os votos do Presidente da Junta de Freguesia de Pomares.
Muito reconhecidamente «Bolteim Sobralgordense» agradece as palavras oportunas e amigas de tão ilustre filho da nossa freguesia, pela qual tem trabalhado incansavelmente mas que nem sempre o tem compreendido e coadjuvado nas suas patrióticas iniciativas.
Boletim Sobralgordense, Maio de1959.